Resenha de Banquete 1, Terrorismo Poético (Thiago Enoque) por Lucas Andrade de Oliveira




           Fui ao teatro Gamboa Nova sem muita expectativa pois não sabia o que eu iria encontrar,  não tinha escutado ninguém falar sobre a apresentação, e só o que eu sabia era o que estava escrito no panfleto do Gamboa que falava sobre um espetáculo de transgressão e bufonaria.
            No momento em que me sentei no teatro, eu estava emocionalmente neutro e um pouco cansado. A apresentação começou, o palhaço Sabiá entra com um cesta de frutas e uma mesa dobrável no braço, daí ele começa a fazer um número com a mesa fingindo que não conseguia abri-la e se embolando com ela seguido de algumas pantomimas com uma “abelha imaginária”.
            Eu não estava achando aquilo engraçado, não via nada fora do convencional e esperado, senti até um pouco de vergonha por ele porque ninguém estava rindo... queria esboçar um sorriso solidário. Pensei “Bufonaria? Transgressão? Miserável, usou um golpe de marketing!”, pensei também que ele poderia ser principiante.
            Então ele realizou um número em que fazia uma bola de chiclete gigante, gostei do realismo que ele conseguiu dar ao número, me provocou até  certa agonia em alguns momentos. Foi ai que ele começou a fazer o número com as frutas, arrumou-as na mesa de uma maneira bem bonita, ofereceu à plateia, ninguém quis, daí ele começou a comer as frutas, uma banana depois outra, algumas uvas, mais uma banana... percebi que ele começou a comer de uma maneira mais acelerada e gulosa, de repente já estava comendo o alface da decoração, então ele começa a comer uvas, muitas uvas e a ficar com a boca bem cheia, achei aquilo engraçado e ri do quanto ele estava parecendo idiota com a boca entupida de uvas.
            Mas ele continuou a encher a boca de uvas e frutas, e de repente a boca dele estava transbordando e cada vez mais ele empurrava mais fruta e começava a gofar. Aquilo deu um choque, e me despertou, comecei a rir, um riso espontâneo que vem de ver o “certinho” e “bonitinho” ser transgredido, tinha uma parte minha que se divertia e tinha fascinação ao ver aquilo, acredito que seja a parte que foi reprimida ao escutar minha mãe me dizer como se comportar à mesa. E então como em um crescendo o palhaço passa exagerar cada vez mais com as frutas, chegando a quebrar pedaços de mamão na própria cara e a enfiar bananas nos ouvidos, tudo isso ao som de um heavy metal. Nesse ponto eu já estava com vontade de me levantar e aplaudir aquilo!
O palco e o palhaço ficam todos melados de frutas, daí acabam-se as frutas e o palhaço ainda tem a cara de pau de limpar a boca.
            Após isso ele começa dançar ao som de musicas de pagode com letras “vulgares” até abaixar as calças e tirar uma lingüiça da cueca (literalmente), a qual ele corta e oferece à plateia. Depois de toda essa transgressão ele passa a dançar ao som de musica clássica tocada por um ursinho de dar corda, que se tornará uma bomba relógio e explodirá, finalizando o espetáculo.
            Gostei muito da mudança de intensidade ocorrida no meio da apresentação, pois eu tinha criado uma imagem do palhaço e da apresentação ao ver a parte inicial, e vi essa imagem ser quebrada em um instante, o que me fez despertar muito o interesse, a atenção e o riso. Acredito que não teria o mesmo resultado se já começasse intenso, pois o fascínio está justamente na transgressão.
            

Comentários

Muito Obrigado Demian, por publicar a resenha de Lucas e um obrigado especial ao Lucas pela crítica. Muito objetiva, ética e com educação. Um bom olhar sobre o espetáculo e a palhaçaria.

Valeu!!!!!!!!!
Demian Reis disse…
Massa Thiago, estou sempre disposto e a postos para por em evidência e colocar lenha na fogueira da palhaçaria de Salvador e lhe parabenizo pelas lenhas que vc vem colocando sem cansar.

abraços

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