Relato da oficina Palhaçaria: em busca de um corpo cômico. Ministrado por Demian Reis na Escola de Dança da UFBA em 2009
O objetivo desta oficina foi aprofundar o aspecto da improvisação na prática artística da palhaçaria. O trabalho foi guiado a partir de princípios, estratégias e procedimentos dramatúrgicos próprios da palhaçaria clássica e não clássica. Foi uma oportunidade de mostrar na prática o estado atual da minha pesquisa de doutorado Palhaçaria: palhaços, platéias e risos, que está sendo desenvolvido no Programa de Pos-graduação em Artes Cênicas da Universidade Federal da Bahia.
Ao longo do curso compareceram mais de 20 pessoas, mas cumpriram a carga de mais de 75 por cento apenas 15: Ângelo Soares (teatro), Thaís da Cunha (pedagogia), Juliane Melo (psicologia), Maria Dias (dança), Carolina d´ Ávila (Comunicação), Olga Nathália da Paixão Vidal, Lucas Santana, Samira Parcero, José Diego Santos e Silva, Agatha Bel (pos-graduação em artes cênicas), Ricardo Evangelista Fraga (teatro), Marcos Fernandes (teatro), Lara Moura (psicologia), Roberta Nova (pedagogia) e Nelly Grotefendt (ciências humanas). Os alunos vieram de formações distintas incluindo, dança, teatro, comunicação, ciências humanas, psicologia, pedagogia e pós-graduação em artes cênicas entre outros. Trabalhei com eles quatro pontos principais: o corpo cômico, a improvisação e composição.
Para conduzir esta oficina usei a seguinte metodologia dividindo uma carga horária de 36 horas em uma sessão de três horas semanais no espaço cedido pela Escola de Dança da UFBA:
• Aquecimento para um corpo cômico.
• Jogos para desenvolver comicidade pessoal
• Indicações físicas para operar corpo cotidiano e extra-cotidiano
• Exercícios para desenvolver a escuta da platéia.
• Foco e triangulação (solo, dupla e trio)
• Estudo de tempo cômico
• Exibição de trechos de filmes que registram a palhaçaria mundial
• Indicação de referências teóricas para estudo e aprofundamento
• Apresentação das composições no painel da amostra realizado na Escola de Dança, numa amostra realizado para finalizar a oficina integrando três números convidados, um composto por um grupo de surdo mudos dirigido por Marcos Fernandes, uma apresentação solo do palhaço Sabiá (Thiago Enoque) e uma dupla formada por Deo Carvalho e Ninfa e apresentação no Cabaré Total do dia 10 de dezembro dirigido por mim em homenagem a Pinduca palhaço baiano de 94 anos realizado na Sitorne Estúdio de Artes Cênicas.
• Indiquei a leitura de uma apostila reunindo um panorama de abordagens sobre palhaço e palhaçaria.
• Debate sobre vídeo que reúne entrevistas com diversos palhaços do cenário atual como XuXu (Luis Carlos Vasconcelos) e Avner Eizenberg.
Resultados parciais:
Foi muito gratificante perceber o quanto o vocabulário desta metodologia está cada vez mais claro, preciso e eficaz em sua operacionalidade. Os próprios alunos em grupo e individualmente e em tempos diferentes me deram o mesmo retorno. Mesmo para quem não tem familiaridade com técnicas corporais cênicas, porque não possui experiência com teatro ou dança assimilam, às vezes, com uma criatividade que surpreende. Do ponto de vista dos alunos que praticam técnicas cênicas, um dos retornos mais recorrentes foi a compreensão de que é extremamente valioso o princípio da relação com a platéia, visto que o palhaço dá muita importância para como ele está afetando ou não a sua platéia, uma vez que ele depende da sinceridade desta percepção para aumentar a possibilidade de partilhar uma leitura e finalmente o riso das suas platéias. Se a platéia está boiando em outra freqüência, dificilmente o palhaço consegue o resultado do riso de sua platéia.
Foi muito importante ter três oportunidades de apresentação, visto que sem uma experiência com a platéia dificilmente as técnicas assimiladas encontram seu lugar na consciência do artista. A primeira apresentação das três esquetes criadas: Banheiro unisex, Banhos e José morreu, provocou uma frustração geral que foi extremamente importante para perceberam a necessidade de exercitarem a escuta da platéia e que este exercício só pode amadurecer com uma platéia estranha, pois a platéia existente nas aulas formadas pelos próprios alunos quando não estão em cena, é uma platéia condicionada a uma memória construída durante a oficina, portanto cheia de pressupostos que inexistem na qualidade dos espectadores de fora, estranhos ao ambiente dos colegas. Foi ótimo vê-los crescer de uma apresentação para outra a medida que se apresentavam para novas platéias.
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