AVALIAÇÃO DA OFICINA EM BUSCA DO CORPO CÔMICO



Bilu Tetéia e Coacha em Banhos

Ao decidir participar da oficina esperava ter um reencontro com uma prática cênica deixada de lado há alguns anos. Já havia feito um curso de palhaçaria e apesar da dificuldade com o ridículo e com a exposição ao olhar do outro, bem maior do que em outras escolhas estéticas de interpretação, a liberação de alguns pesos e o prazer de ser genuína, ingênua, entregue, ficaram marcadas na lembrança. Por outro lado, apesar de não saber o que me esperava na oficina, ansiava por um treinamento, um desenvolvimento como artista e como não poderia deixar de ser um encontro com outros. Ao avaliar essa experiência e o prazer obtidos em diversos momentos, a alegria em pensar na realização pessoal e até a dor de tocar em questões tão enraizadas na minha alma vem à tona. O curso me possibilitou a descoberta de aspectos do meu jeito de ser que eu não conhecia assim como o desenvolvimento de formas para lidar com a minha resistência. Além de permitir a identificar os mecanismos de resistência que eu utilizava para lidar com meus medos da exposição e de revelar ao outro marcas das minhas experiências, pensamentos, sentimentos e dores.
No que se refere ao conteúdo e a metodologia diante de uma carga horária tão pequena e da diversidade de formação dos participantes provenientes de diversos cursos da universidade e às vezes até de fora dela, além da alternância com que estes apareciam, os chamados pára-quedistas, tentar a descoberta do cômico de cada um foi uma excelente escolha. Entramos em contato com aspectos da improvisação na prática artística da palhaçaria, elementos deste tipo de dramaturgia, discussões teóricas acerca desta arte, a questão da composição, foi incentivado o aprendizado do tempo cômico e refletimos sobre a relação com o público, o principal alimento do artista. O marcante, para mim, foi a preparação do corpo para o trabalho. A proposta de um alongamento passivo e marcado pela descontração, com alternância entre a pesquisa individual, o contato consigo e depois a diversão, compartilhando os nossos erros rindo um do outro como forma de amar e não com ironia ou maldade. Pude retomar um trabalho com meu corpo parado há tempos descobrindo, por exemplo, que meu lado esquerdo possui maiores entraves que o direito. E acima de tudo a alegria como não mencionar o os risos, as gracinhas e o inesquecível “Vou voar! Vai voar porra nenhuma!”.
Foram muitas as descobertas durante o processo e a condução favoreceu muito para isso. A quebra com as normas e regras. Lembro-me de um exercício um jogo de bola, o qual, numa segunda etapa, foram retiradas todas as regras permanecendo apenas a orientação “não há regras”. O grupo sentiu-se perdido, a energia diminuiu até ficarmos praticamente estagnados uns olhando para os outros. Isso foi importante, principalmente porque percebemos o quanto vivíamos presos as convenções e regras impostas quando nos era dado a liberdade total para agir e criar ficávamos estagnados. A sensibilidade, sagacidade e perspicácia do orientador foram fundamentais em muitos momentos e foi possível reconhecê-la em você, porém em muitos momentos a sua ansiedade de criar ou chegar a um resultado quanto ao objetivo do exercício proposto dificultou em alguns momentos para que eu fizesse algumas descobertas que seriam mais lentas.
Infelizmente chegamos ao final do curso para mim foram muitas as conquistas e descobertas. A sinceridade com que se faz as coisas é essencial para alcançar a arte da palhaçaria e esta idéia vou levar para sempre. E a sinceridade com a qual estivemos juntos, nas apresentações e no momento de assistir os outros artistas revelando um pouco de nós mesmos foi de uma beleza inenarrável. Assim, só tenho a agradecer a oportunidade e pedir que continue na vida criando esses caminhos que levam a encontros e reencontros dos sujeitos consigo e com os outros.

por Juliane do Rosário Melo

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