Rosário - um solo de Felícia de Castro
“Conta a história que os gregos entendiam o teatro como um elemento curativo da alma, em doenças como a falta de compaixão que é tratável, mas provoca grandes dores e gera perversões, inclusive sociais. Conta a história que os médicos receitavam a ida ao teatro junto a poções. As poções só se processariam quimicamente no corpo quando no espírito se operasse também uma transformação. O teatro trazia à cena temas que moviam o espírito da humanidade. O público entrava em contato direto com o que era comum à natureza interior e investigava-se. Os espetáculos vivificavam, portanto, a grandeza de cada um”.
Denise Stoklos
O espetáculo Rosário é, nas palavras de Felícia de Castro, “uma fábula pessoal que recria imagens de terra, mar, mãe, rainhas, coroações, cortes e catarses em um ritual, em uma festa”. Neste espetáculo as imagens são oníricas e dão margem a uma infinidade de leituras. Cria um estado de embriaguez e loucura, saindo do realismo, para deixar a platéia em um estado de poesia. E este estado se mantém do início ao fim.
Também a palhaçaria utiliza o onírico como instrumento, as metáforas nas imagens são o caminho trilhado pelo palhaço, que se oferece enquanto corpo e emoção para compor a dramaturgia da cena. O clown corporifica reações afetivas e emotivas, o trabalho corporal é intenso, sua lógica é físico-corpórea: ele pensa com o corpo. E através deste estado físico dilatado, que trabalha camadas musculares profundas sente-se que algo emana do palhaço, o que para Puccetti é sua presença cênica.
Assim também em Rosário, que “reaviva uma memória muscular profunda(...) corporeidades marcadas de ancestralidades”. Cada movimento nos lança em uma terra fértil de simbologias, como o da coroação de reis negros, ao som da Marcha de Nossa Senhora do Rosário. Coroar-se a si mesmo, reafirmar-se, responder, ser responsável.
Em Rosário a música conduz a narrativa, o caminho a trilhar. Os cantos, as poesias não são elementos discursivos, mas tomam o público por serem “multimeios”pelo simbolismo que carregam. A beleza das culturas orais de nossa formação enquanto povo emergem como plataforma estética do espetáculo. Segundo Stoklos “um ator não dá as costas para seu país: carrega-o nas costas ao enfrentá-lo”. Assim Felícia mostra-se a si mesma, compartilha-se, e ao fazê-lo deixa o rastro do caminho para nossa identidade.cultural. Emociona, transforma o público ao oferecer a coroa para que ao afirmar-se, coloque-se diante de sua própria vida.
Assim também o palhaço, que nas palavras de Puccetti, provoca, emociona é transformador. Ele se revela, se denuncia, se constrói em cena compartilhando com o público a todo momento. O palhaço “pesca” um a um na construção de sua relação com o público. O “como “ fazer é mais importante do que aquilo que o palhaço faz em cena, pois deve ser ao mesmo tempo cômico, tocante, provocativo e emocionante.
Num mundo em que “ a cada dia mais perde sua capacidade de brincar e de se reinventar”, nas palavras de Puccetti, a figura do palhaço é cada vez mais essencial e necessária. Assim também é necessário performers solo como Felícia de Castro, que trabalha com a emoção enquanto pedra bruta, vestida de mar..
Doris Fernandes
Denise Stoklos
O espetáculo Rosário é, nas palavras de Felícia de Castro, “uma fábula pessoal que recria imagens de terra, mar, mãe, rainhas, coroações, cortes e catarses em um ritual, em uma festa”. Neste espetáculo as imagens são oníricas e dão margem a uma infinidade de leituras. Cria um estado de embriaguez e loucura, saindo do realismo, para deixar a platéia em um estado de poesia. E este estado se mantém do início ao fim.
Também a palhaçaria utiliza o onírico como instrumento, as metáforas nas imagens são o caminho trilhado pelo palhaço, que se oferece enquanto corpo e emoção para compor a dramaturgia da cena. O clown corporifica reações afetivas e emotivas, o trabalho corporal é intenso, sua lógica é físico-corpórea: ele pensa com o corpo. E através deste estado físico dilatado, que trabalha camadas musculares profundas sente-se que algo emana do palhaço, o que para Puccetti é sua presença cênica.
Assim também em Rosário, que “reaviva uma memória muscular profunda(...) corporeidades marcadas de ancestralidades”. Cada movimento nos lança em uma terra fértil de simbologias, como o da coroação de reis negros, ao som da Marcha de Nossa Senhora do Rosário. Coroar-se a si mesmo, reafirmar-se, responder, ser responsável.
Em Rosário a música conduz a narrativa, o caminho a trilhar. Os cantos, as poesias não são elementos discursivos, mas tomam o público por serem “multimeios”pelo simbolismo que carregam. A beleza das culturas orais de nossa formação enquanto povo emergem como plataforma estética do espetáculo. Segundo Stoklos “um ator não dá as costas para seu país: carrega-o nas costas ao enfrentá-lo”. Assim Felícia mostra-se a si mesma, compartilha-se, e ao fazê-lo deixa o rastro do caminho para nossa identidade.cultural. Emociona, transforma o público ao oferecer a coroa para que ao afirmar-se, coloque-se diante de sua própria vida.
Assim também o palhaço, que nas palavras de Puccetti, provoca, emociona é transformador. Ele se revela, se denuncia, se constrói em cena compartilhando com o público a todo momento. O palhaço “pesca” um a um na construção de sua relação com o público. O “como “ fazer é mais importante do que aquilo que o palhaço faz em cena, pois deve ser ao mesmo tempo cômico, tocante, provocativo e emocionante.
Num mundo em que “ a cada dia mais perde sua capacidade de brincar e de se reinventar”, nas palavras de Puccetti, a figura do palhaço é cada vez mais essencial e necessária. Assim também é necessário performers solo como Felícia de Castro, que trabalha com a emoção enquanto pedra bruta, vestida de mar..
Doris Fernandes
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