Dança

"Não é possível repetir-se o passado. Podia amar ainda algumas mulheres. Ainda, por alguns anos, brilham os meus olhos, a minha mão será carinhosa, o meu beijo agradável às mulheres. Então, terei que me despedir desses dons. Mas, então, a despedida, que hoje posso tomar voluntariamente, terá que ser tomada na derrota e com desespero. A renúncia, que hoje é vitória, será, então, vergonhosa. Por isso, devo renunciar já hoje e me despedir agora.

Aprendi muito, hoje. Muito terei de aprender ainda. Da criança terei que aprender que nos encantou com a sua silenciosa dança. Nela, o amor desabrochou ao ver à noite, um par de namorados. Uma onda precoce, um inquieto e belo pressentimento do prazer fluiu pelo sangue dessa criança, levando-a a dançar, por ainda não poder amar. Assim, eu terei também de aprender a dançar, transformando o apetite carnal em música, a sensualidade em prece. Então, poderei sempre amar, sem ter de repetir o passado infrutuosamente. Este será meu caminho."

Herman Hess, 1924 (A arte dos ociosos)

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