R E L A T O D O C A B A R É D E P A L H A Ç O S
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Por Luizamor
Eu me surpreendi com o atraso considerável com que o show começou e , mesmo sendo para dar ênfase à declamação na frente da Sitorne, o público ter ficado ainda mais um pouco de tempo impedido de adentrar no teatro. Foi compensatória a preciosa introdução feita ao ar livre, na praça, com artistas como Felipe, com excelente dicção, tonicidade e volume de voz suficientes para declamar ao ar livre, mesclados pela vivacidade da presença do fogo que iluminava o espaço, dando-lhe alegria e movimento. Sentí falta de algo comestível além das bebidas, que foram servidas de maneira divertida e adequada à descontração do espetáculo, facilitando a proximidade do público com o elenco. Meus comentários não estão na ordem da apresentação dos números citados e sim de como me chegam na lembrança e chamaram minha atenção.
A nudez do palhaço Biancorino mostra-se assexuada (o sexo escondido entre suas pernas, com a virilidade ausente) e suas formas arredondadas e seu tom de pele branco e rosado me trouxe a visão de um bêbê gigante. A pureza e naturalidade demonstradas desmonta o clima de pretensa sensualidade entre ele e Ricota, que ,muito desajeitada , forma um par de inocência libidinosa.A associação de um objeto erótico –um preservativo – a um uso lúdico não convencional causa-nos divertida surpresa.Este mesmo palhaço, no número em que compete com outro para conquistar sua palhaça, recorre à sua própria fragilidade, ao se render ao sentimento de perda e chorar copiosamente sua mágoa sem vergonha para nos sensibilizar.Esta sua indefesa é o que o torna mais real, sincero e quebra o jogo de poder com o outro, algo que me desagrada ver perpetuado nos jogos entre palhaços e que não me proponho a reproduzir na minha proposta de vida.
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A palhaça Mindinha, que canta e se diverte com os recursos da própria voz me entusiasmou por seu despojamento! Sua interação espontânea com o público que se identifica com a pessoa que não é profissional de canto mas uma “amadora” do que está fazendo, produz uma calorosa proximidade.
A força cênica da palhaça Palitolina ,que atua com um casaco,nos dá imenso prazer e excitação!A vida emprestada ao objeto inanimado, a sua capacidade de contracenar consigo mesma seccionando o corpo em movimentos para fazê-lo atuar como duas identidades distintas deu ao seu número originalidade, graciosidade e nos revelou o excelente domínio técnico desta artista.
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Luiza em sua saída de palhaço. Foto Eduardo Ravi.
(Luizaamor é aluna da disciplina Palhaçaria, ministrado este semestre por Demian Reis, do curso técnico profisionalizante da arte de palhaço da Sitorne Teatro)
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